De Zé Sabido a Marcos Vanderlei, símbolo e memória de um movimento cênico/ Maceió(AL)Abril, 2022.

                                                                                                  Tessitura_ Lili Lucca


Sentar à mesa do bar é um ritual, é ritual também o teatro, ambos se dão no encontro. Aqueles que nunca degustaram de uma boa dose de algo etílico, ao menos espero que aqui junto a nós tenham se inebriado da arte e poesia daquele que em cena conta causos tontos de dias de embriaguez. “Há multidões em mim” é o que versa em suas palavras o personagem Zé Sabido, e o que acontece em cena há mais de trinta anos de trabalho do ator Marcos Vanderlei, composição de histórias.





    Puxe sua cadeira, desce mais uma, mais uma conversa a beira do palco esse é o efeito que nos causa, estamos achegados a ele, ali nas frestas das luzes. Entrelaçados pelas vivências contadas, à beira de paisagens feitas de calçadas e quadrados amarelos, onde as mãos suavizam e tocam garrafas levando a boca de copos liquidez, e então inebriando nossos sentidos.

    A dramaturgia das peripécias de botecos, realidade e/ou ficção permeiam a todos pela memória, aqueles livres que ao invés de régua da moralidade permitem vivenciar o efeito do álcool. Não coloco aqui o álcool como o centro do conflito de cena. Busco aqui a liberdade daqueles que são abraçados pela rua, das pessoas que vivem a descobrir, o mundo em outras pessoas. Daqueles que não estão previamente planejados, que curtem o improviso da vida, que esquecem o dia de amanhã para viver o hoje. Qual a certeza do amanhã? Escutar as histórias do Zé Sabido, é também lembrar-se do presente. E o hoje?






    O êxtase do momento é o que Zé Sabido discorre em cena, é um daqueles que como muitos de nós experimenta o sabor e os devaneios da vida.

    Um encontro que necessita do básico, um ator, algumas boas histórias e uma plateia atenta, ali como no teatro, somos capturados pelo trabalho de Marcos. E alucinante a simplicidade do palco vazio, a luz que vaza pela caixa de cerveja e desenha a cena que povoa e reanima nossas lembranças, somada ao trabalho autêntico, intenso e gentil de Marcos.

    Comparecer ao espetáculo Zé Sabido, e ver Marcos Vanderlei, em cena é como ver muito da história do teatro alagoano viva pulsando. Anoto aqui uma tentativa de catalogar e compartilhar com vocês, um pouco da nossa história cênica e híbrida de nossas terras. Há algum tempo acompanhando e fazendo parte do cenário Alagoano, a imagem de Marcos, permeia minhas referências cênicas. Sua imagem nos palcos alagoanos é algo muito concreto, ele sempre esteve ali no tablado. A grafia de seu trabalho de ator é um presente e um legado para a história da arte alagoana.






    Maceió, é uma terra onde a história do nosso teatro, ouso dizer, é feita por seus artistas e seus caminhos. Andar pelos espaços de ocupação cênica desse ator, é se deslocar há 1990, no Infinito Enquanto Truque, é escrita de uma dramaturgia do Teatro da Meia Noite, é acessar os jogos do Cena Livre e hoje aplaudir sua jornada na Cia. Imaginário.

    Cia. Imaginário, que desde os anos 2000 se intitula como propagador cultural na cena Alagoana. O espetáculo Zé Sabido, segundo me contou em uma prévia conversa a diretora do espetáculo Beth Miranda, é o primeiro espetáculo adulto do grupo e que queria homenagear o trabalho de mais de três décadas do colega de cena Marcos Antônio da Silva Vanderlei. O espetáculo que nasce de maneira coletiva no grupo, tem também o texto tecido por Márcio Veloso.

    Zé Sabido é ligeiro, tem sua história tecida entre uma dose/cena e outra, ao seu redor no teatro Deodoro, olhos atentos ao seu movimento e ao seu caminho. Que siga contando, percorrendo e edificando a história do teatro em Alagoas. Marcos daqui te digo, uma coisa é certa seu trabalho está escrito na memória daqueles que te presenciaram em cena. Sua trajetória é um documento vivo do teatro alagoano.


 SERVIÇO:

Teatro é o maior Barato

20 de abril de 2022

Zé Sabido

Monólogo com o ator Marcos Vanderlei

Texto: Márcio Veloso

Direção: Bethe Miranda

Produção: CIA Teatro do Imaginário

Classificação: 14 anos

Fotos- Roberta Brito


Nenhum comentário:

Postar um comentário

“Estendam ás mãos já! - Narrativas Individuais para Construções Coletivas”

    Tessitura_ Lili Lucca            Ainda andamos de mãos dadas Cacau, aqueles que na cena construíram espaços de criação de arte ao seu la...