“Estendam ás mãos já! - Narrativas Individuais para Construções Coletivas”
Caminhando pelo espaço ou Arruando por Penedo
Tessitura por Bruno Alves
Quem já fez uma aula ou oficina de teatro sabe que em algum momento vai ouvir o comando: “Caminhando pelo espaço…”.
Aprender a caminhar no exercício cênico é um desafio que vai se aperfeiçoando a cada nova tentativa e com a continuidade da prática, mas pausar a prática não quer dizer que o caminho acabou, afinal:
“O Caminho de dentro
É um grande espaço-tempo”
Hilda Hilst
Em Penedo - Alagoas basta caminhar para se encontrar com o imprevisível, mas talvez caminhar não seja a palavra que comporta a dimensão da importância de viver a experiência das ruas, pois arruar seria o termo mais adequado, conforme nos fala SALES (2013, p.69) ao dizer que:
Como bem definem os dicionários, “arruar” designa o ato de vaguear pelas ruas como vadio. Ou, como ensina o escritor Mário Sette, “arruar é apreender o sentido dos vários trechos da cidade, penetrando-lhes a origem e saboreando o acerto de batismo dos bairros, das freguesias , dos logradouros”.
Arruar pelo espaço é buscar compreender as histórias por trás das paredes pintadas ou mofadas. É penetrar mais fundo no movimento das pessoas, dos veículos, do tempo das águas do Rio. É preciso percorrer mais de uma vez os mesmos lugares e perceber o que foi perdido de vista, o que passou despercebido na primeira arruada. É antes de tudo dialogar com o sol, a chuva, o vento e o cansaço das pernas.
Arruado pelo espaço, cruzando os caminhos, avenidas, becos, ruas e vielas, nos encontramos com o outro que atravessa, somos guiados pela outra que acabou de nos conhecer. Andreza foi uma dessas pessoas que nos olham nos olhos e parecem que já nos conhecem. Ela nos deu a mão e caminhou fazendo um reconhecimento do espaço logo no primeiro dia que chegamos a cidade em junho do ano em vigência. Fez questão de nos contar sobre os lugares, pessoas, gastronomia e a arte e seus artistas. Sim, Andreza nos falou dos artistas que procurávamos e nos falou de outros que nem sabíamos. Em um determinado momento da caminhada olhando a grande avenida em nossa frente, ela sentenciou:
“Até aqui seguimos juntos a mesma via. A partir daqui dois caminhos se abrem, o dos que vão e o dos que voltam”.
Andreza (ao centro) guia Lili (a esquerda) e Jocianny (a direita). |
Partindo do princípio que para voltar é preciso primeiro ir, nós seguimos reconhecendo a cidade e tentando compreender em tão curto espaço de tempo como é ser artista do teatro naquele lugar. E embora possa parecer estranho esse meu questionamento, quero dizer que venho de uma cidade do interior, no meu caso Viçosa, e sei como por lá as coisas funcionavam ou desandavam. Ser artista de teatro em um interior como o que eu vim, é muitas vezes percorrer caminhos apertados e estreitos e antes que esse texto vire um muro de lamentações, prefiro acreditar nos versos da canção da minha conterrânea May Honorato que ao cantar diz:
... acontece
Que a gente, pele a pele, é como prece
Que a gente, mesmo em solo seco, cresce
E quanto mais se mostra mais parece
Assim como na Viçosa, a cidade de Penedo é atravessada por um Rio, o Paraíba na primeira e o São Francisco na segunda. São solos molhados, férteis, alagadiços e que transbordam. A água arrasta tudo, a água transforma, renova, dá vida e mata. E se Brecht diz que: “Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem.” não podemos negar o quanto ainda é violenta a falta de abertura, investimento e diálogo com os artistas que vivem em outros eixos para além da capital alagoana e que até na capital não é essas maravilhas todas, a exemplo do tratamento recebido pelos artistas locais nos festejos juninos realizados pela prefeitura de Maceió na última edição.
Parece que ser artista é estar sempre tentando caminhar e sobreviver entre gestões públicas na incerteza do que poderá acontecer quando entram ou saem novos agentes públicos que comandarão as pastas da cultura e que muitas vezes não possuem nenhuma relação com a pasta e estão ali por acordos políticos.
Espaços para se fazer arte em Penedo não faltam. É lá que está o Teatro Sete de Setembro, o mais antigo de Alagoas e concebido pelo mesmo arquiteto do Teatro Deodoro. É nítida a influência do edifício na formação dos artistas locais, mas dependendo da gestão corre o risco de se tornar um lugar de eventos aleatórios e um lugar de difícil acesso aos seus fazedores de teatro local.
Fora do edifício teatral, arruando pelo espaço, a vida artística também acontece e talvez pulse num lugar de força e resistência. É pensar e reconhecer que fora dos espaços oficiais existem blocos de carnaval de rua, como o Bloco da Raquel que desse ladeiras e atravessa outros caminhos, organizado por Ednilson, conhecido como Chinho Pato, um grande anfitrião e memória viva do seu lugar.
Caminhos outros que vamos descobrindo com os santeiros e seus ateliês, mercados com artesãos, ou mesmo espaços como um porão de uma rádio onde outro artista vive e cria dividindo o lugar com o mofo e infiltrações. Penedo possui muitos espaços, prédios históricos, biblioteca, lugares com fachadas históricas e coloridas, onde poderiam fervilhar emoções, criação artística e outros caminhos.
Caminhos… Arruamos muito por Penedo até chegar ao edifício teatral. Foi o último lugar que chegamos durante essa jornada de descobertas. Propositalmente queríamos respirar a cidade e sentir a vida que pulsa nela, para além da efervescência dos influencers digitais pela qual a cidade se tornou conhecida em todo o Brasil. O espaço do teatro geralmente é ocupado por muitas ações das secretarias diversas da prefeitura. É um espaço aberto ao público com profissionais receptivos e acolhedores. Fomos recepcionados por pessoas comprometidas com aquele lugar. Emmanuel Painho, ator e produtor da cidade, mediou esses encontros. Quando pensamos em uma cidade que tem edifício teatral, pelo menos em minha cabeça vem a impressão de ser uma segunda casa dos artistas de teatro, mas caindo na realidade, sabemos que em nenhum lugar é assim. Depende das gestões, das políticas públicas e dos investimentos e interesses dos gestores de cada lugar.
Queríamos encontrar os fazedores de teatro da cidade. Penedo possui uma forte tradição teatral. É referência de teatro de grupo e de trabalho em coletividade no nordeste. Na adolescência, quando comecei a fazer teatro em Viçosa, foram eles a minha primeira grande referência fora do meu interior e tive a oportunidade de dialogar com a Cia Penedense de Teatro através de trocas com o Grupo Teatral Riacho do Meio do professor Ronaldo Aureliano.
Encontro com fazedores de teatro de Penedo. |
Mas como sem escolas oficiais de teatro Penedo construiu e constrói uma história bonita com o teatro? A resposta está no fazer, no arruar pelo espaço, no descobrir, no experimentar, no estar aberto ao encontro e as trocas. A/o artista de teatro penedense se forma assistindo o outro, tem como referência e inspiração as pessoas que cresceram assistindo na cidade e que dividem esse mesmo território com eles/elas. É caminhando que chegam em outros lugares e que movimentam o espaço em que vivem.
A Cia Penedense de Teatro, que pausou temporariamente seus trabalhos devido aos rumos e caminhos da vida de cada artista, ainda é viva na memória de cada cidadão. Andreza logo nos falou da Cia ao pensar em teatro. Foi a Cia quem organizou o Festival de Férias no Teatro que em seguida se tornou o Festival de Teatro de Penedo, um marco e referência na história das nossas artes cênicas. Ela parece nunca ter saído de cena e nas duas vias de caminho que se mostram parecem sempre que estão indo, seguindo, caminhando e preparando o corpo para pegar a via de volta.
Assim como a Cia, foi preciso que a gente continuasse a caminhar pelo espaço e nesse caminho nos deparamos com paisagens, pessoas, gerações diferentes do teatro que se encontram, a exemplo da Cia Flor do Sertão ou mesmo Priscila Calumbi, frutos de encontros em festivais estudantis e hoje uma das organizadoras do Intercâmbio Teatral Estudantil que está chegando a sua sétima edição e reunindo uma nova geração de artistas do teatro de todas as escolas da cidade. O fazer teatro em Penedo nunca parou e está sempre formando as novas gerações de artistas e plateias.
Arruando pelo espaço vamos encontrar “Allê, o Santo” e conhecer sua poética que atravessa a música, o teatro e a espetacularidade da quadrilha junina “Chapéu de Palha”... Allê sabe que para seguir caminhando e levando a arte que acredita se tem muitas vezes um caminho desgastante e desestimulador pela frente, mas continuar caminhando é a sua opção, é o chamado e vocação.
Gravação do Podcast no Theatro 7 de Setembro. |
Talvez tenhamos em comum os percalços do caminho e a vontade de continuar caminhando.
Pelas ruas e avenidas existem os que vão e os que voltam, nos alertou Andreza. O artista de teatro penedense nunca parou, está sempre indo, reinventando as possibilidades de caminhos, construindo novas formas de ser teatro por onde quer que seus pés possam pisar, seja numa escola, num escritório de advocacia, numa usina, dentre tantos outros lugares que a vida vai nos levando a ocupar.
Por hora sigo arruando por Penedo na minha memória e pensando na resistência e poesia de Allê, O Santo, Jéssica Oliveira, Anderson França, Emmanuel Silva, Fernando Arthur, Miranildes, Priscila, Juliana Félix, Ravy Thiago e tantos artistas do teatro de Penedo. Esses encontros nos abrem e fortalecem os caminhos e fazem a gente se apaixonar e acreditar na caminhada.
Referências:
HILST, Hilda. Exercícios. São Paulo: Globo, 2002. p.75.
HONORATO, May. Música “Acontece”. Maceió: 2022. Plataforma Digital Deezer. Duração: 2m50s
SALES, Francisco Alberto. Arruando para o Forte: roteiro sentimental para a cidade de Penedo. -2.ed. - Penedo: Fundação Casa de Penedo, 2013.
Um tango na rua do banheiro
Tessitura_Jocianny Caetano
“3 coisas que odeio:
Enfim, o viajante está na rua do Banheiro, onde se fica diante do nascimento do Penedo. A visão de hoje não é das mais agradáveis. Ainda não se despertou para o potencial histórico e turístico que tem a modesta rua e por isso o abandono e o matagal são os senhores desse pedaço de chão. Estamos nos fundos do Clube de Caça e Pesca do Penedo, prédio que já serviu de Consulado Provincial, onde nos tempos de antes das barragens era possível pescar farturas em apenas uma manhã de serviço. Hoje o peixe já não consegue vencer o lado que o rio já não tem forças para carregar e o ecossistema perde inúmeros elos de sua corrente. Mas ainda é possível recuperar a memória do lugar. (SALES, 2003, p. 79)
Cada indivíduo elabora em seu cérebro, na perspectiva de seu próprio corpo e conforme um olhar construído na relação em sociedade, uma imagem ambiental. Ela é a representação mental do espaço elaborada através de quaisquer tipos de experiência, mesmo indireta. (MARTINS, 2009, p. 25)
Referências:
KAFKA, Franz. A Metamorfose. Rio de Janeiro: Antofágica, 2019. 1ª edição (10 maio 2019).
MARTINS, Marcos Bulhões. Encenação em jogo. São Paulo: Hucitec, 2009.
SALES, Francisco A.. Banheiro. In: SALES, Francisco A.. Arruando para o forte: roteiro sentimental de penedo. 2. ed. Recife: Bagaço, 2003. Cap. 7. p. 75-81.
CAETÉS_ A culpa é sua!
Tessitura_Lili Lucca
Para esse diálogo de tessitura trago ideias de perguntas para processos criativos: É possível transformar a história através da arte? Porque recontar ou como contar uma história através do tempo? A minha narrativa de cena percorre quais caminhos discursivos? O que estou pronunciando na minha criação de cena?
Interior, relativo a parte de dentro, interno. Interno, que fica do lado de dentro. Assisti em meados de setembro o espetáculo Caetés, com artistas que estão escrevendo a cena do interior do nosso estado, na busca de uma estética realista, o discurso da cena é literal e representativo, assim a Humana Cena conta sua versão no espetáculo Caetés.
A cidade de Palmeira dos Índios tem aproximadamente 73 mil habitantes, segundo o IBGE. Quantos desses habitantes foram ao teatro em 2022? Quantos de nós, mais de 3 milhões de moradores de Alagoas, assistimos a espetáculos de teatro esse ano? Eu conto em minhas caminhadas esse ano, mais de 10 espetáculos vistos, são poucos para quem trabalha na cena. Recentemente em uma rede social do Twitter uma postagem da intitulada @soldefato que dizia assim. “Você sabia que de 6 em cada 10 brasileiros nunca foram ao teatro?” Nessa postagem em sua rede social ela trazia desdobramentos sobre questões cruciais para nossa classe artística e para a população brasileira, como acesso ao teatro, falta de investimento e a desigualdade social que atinge o setor cultural.
Qual o acesso que a população alagoana tem ao teatro? Eu, como estou professora da rede pública estadual, em diálogos em sala de aula digo que essa porcentagem cairia bem mais, porém são diversas as realidades. A conversa aqui é sobre pensarmos o teatro e como seu modo de criação artística, agrega, transforma e impulsiona muito do que somos. Muitos, são os espaços que um espetáculo de teatro e os artistas que o fazem ocupam. Ocupam e com isso tem a responsabilidade de como artistas modificar e construir uma outra possibilidade de ver o mundo, para os olhos que o alcancem.
Compreender cada cena como um recorte histórico, estético de nossos artistas, olhar para essa cena de maneira afetuosa e crítica é um trabalho constante aqueles do ofício teatral. Olhar nossa literatura, investigar seus desdobramentos em Palmeira dos Índios, de 2022 é um trabalho importante tanto de forma pedagógica/histórica e artística. Como investigar nossas memórias sociais e estruturais a partir da literatura local? Há também de se perguntar, como contar essa história hoje? O que os olhares que nos alcançam irão ver em cena? O público é livre, mas ele está presente sobre a escolha de nossas narrativas de cena.
Caetés é um livro de 1933 escrito por Graciliano Ramos, nele temos a narrativa da pacata cidade de Palmeira dos Índios nesse período, é um romance onde se narra os devaneios descontrolados e amorosos de um triângulo amoroso e suas implicações sociais. Se pensarmos que Graciliano, em 1933 coloca como narrativa para o título de seu livro os “instintos” dos Caetés como paralelo para “afirmação” do conflito de sua cena literária, deveríamos estar atentos e propor uma descolonização de nossa cena hoje, evidenciando que a cultura histórica indígena não deve mais ser relativizada por achismos coloniais, aos quais nós ainda estamos presos. Como olhar para nossas narrativas históricas e transformá-las? É preciso rever as palavras e as histórias contadas, a normalização de discursos de violência deve e pode ser estilhaçado pela arte. Grada Kilomba em uma entrevista ao El País nos traz que:
“Desmantelar essas estruturas de poder'', defende Kilomba, passa também pela linguagem visual e semântica. "Normalizamos palavras e imagens que nos informam quem pode representar a condição humana e quem não pode. A linguagem também é transporte de violência, por isso precisamos criar novos formatos e narrativas. Essa desobediência poética é descolonizar"1
O teatro é palavra, presença de variadas formas, é a criação de uma poética única que pode transformar modos de ver e sentir e compreender o mundo por uma cena. Existe sempre naquele encontro a troca, a experiência e ela ocorre de forma única, coletiva e só. Contemplamos com nossos sentidos e com tudo que trazemos de bagagem.
Fotografia: Sombra |
O trabalho de Caetés da Cia Humana cena, evidencia a cultura e a vivência de todos aqueles artistas e fazedores de cultura, a necessidade do realismo nas cenas, a busca constante pela catarse do público e o clímax, a sonoridade quase como uma interferência das cenas. Os atores que declamam a cena, parecendo se deslocar para 1933, outros ao narrarem a cena com todo fervor deglutindo cada palavra nos conectam ao longo do espetáculo, esses são essenciais para a espera da longa da catarse tão ambicionada. Ao longo do espetáculo a culpa moralista é jogada no colo da mulher, os homens têm sempre suas ações e falas justificadas por “instintos selvagens”, tais quais os indígenas como narram os personagens de Graciliano em 1933. Uma sociedade machista e patriarcal onde a culpa cristã beneficia o perdão ao homem de “bem”, ainda é essa sociedade que queremos representar? Essa é ainda a atual Palmeira dos Índios?
Que se libertem os indígenas dessa narrativa, essa culpa eles nunca cultuaram. Qual a cena que escolhemos contar no teatro? Que artifícios de liberdade precisamos conquistar e que estratégias de libertação conseguimos colocar no fazer cênico. Paulo Freire nos apresenta o seguinte, texto de Teresa Nunes:
“A educação libertadora tem, fundamentalmente, como objetivo desenvolver a consciência crítica capaz de perceber os fios que tecem a realidade social e superar a ideologia da opressão. Na educação como prática da liberdade, os homens e as mulheres são vistos como “corpos conscientes”.2
A libertação é individual, mas ela só será estabelecida de forma coletiva, pelo povo consciente de sua realidade, superando a opressão e as narrativas colocadas de forma poética e normativa. Quem sabe um teatro de libertação, uma cena de forma consciente, abrangente dando espaços e caminhos, esperançando olhares, encontrando habilidades, destravando lutas e cultivando plateias.
O teatro é um lugar de pouco acesso ainda hoje para a maioria da população, seja pelo local, pelo valor de ingressos, pela divulgação, nós somos um estado que não temos uma lei de incentivo, ficamos à mercê de editais nacionais e estaduais esporadicamente. Ou seja, quando surgem.
Fotografia: Sombra |
Em 6 anos desses trabalhadores da cultura, quantos de nós acessamos esses colegas, apreciamos e dialogamos sobre o nosso fazer teatral. Quantas pessoas tiveram acesso à experiência ao longo desses 6 anos nas cidades do interior? Há de se aplaudir esses colegas, seu empenho, sua perseverança e torcer para sua continuidade quanto mais nos espalharmos, maiores ficaremos. A Humana Cena, é uma produtora artística e de eventos, que vem desde de 2017 atuando na cidade de Palmeira dos Índios e região, nesse período foram mais de 8 espetáculos, oficinas e cursos de teatro para a população em geral. Além de promover eventos com artistas de outras linguagens artísticas e regiões para o espaço da cidade.
Re-aprender nossas histórias, observar nossas memórias, construir um espetáculo olhando aonde queremos chegar, o que queremos e vamos contar, o que podemos transformar. O extraordinário é nunca parar, o artista é movimento ele quando se movimenta leva com ele muitos, quantas pessoas tiveram acesso à arte pelo trabalho da Humana Cena, que ela chegue a tantos e tantas outres. Que esses trabalhadores cênicos andem por outros caminhos, o encontro os espera. E a cada dia tenhamos novos espectadores,assistindo cenas pela primeira vez, essa é a nossa luta. Teatro deve ser para todos, todas e todes.
Fotografia: Sombra |
Referências:
1-https://brasil.elpais.com/brasil/2019/08/19/cultura/1566230138_634355.html
Serviço:
Dramatugismo: Moisés Monteiro de Melo Neto
Direção: Robson Silva
Elenco: Lydianne Ferro, Gabriel Philippe, Tamário Rodrigues e Rubens Einstein
Sonoplastia: Túlio Francino
Iluminação: Carlos Junior
Cenografia: Robson Silva
Maquiagem e Penteado: Allan Cavalcante e Erika Morgana
Técnica: Pivette Curly e Felipe Erick
Bilheteria: Beto Vianna e Jéssica Leitte
De Zé Sabido a Marcos Vanderlei, símbolo e memória de um movimento cênico/ Maceió(AL)Abril, 2022.
Tessitura_ Lili Lucca
SERVIÇO:
Teatro é o maior Barato
20 de abril de 2022
Zé Sabido
Monólogo com o ator Marcos Vanderlei
Texto: Márcio Veloso
Direção: Bethe Miranda
Produção: CIA Teatro do Imaginário
Classificação: 14 anos
Fotos- Roberta Brito
Festival de Teatro de Taquarana - FESTA 2022
FESTA
Tessitura_Homero Cavalcante*
Legenda: registro do espetáculo "Cravo na Pedra, Amor no Coração" da Cia. Príapo de Teatro. Fotografia: Homero Cavalcante
Viva a paixão pelo teatro que, também, propiciou a construção do Anfiteatro Odeon, na cidade das taquaras! Evoé !
*Homero Cavalcante, faz parte da história do teatro alagoano, escrevendo, dirigindo, atuando e dançando. Participou ativamente Ata (Associação Teatral das Alagoas), foi também, professor da Universidade Federal de Alagoas e sua atuação no estado é responsável por impulsionar grupos e artistas a serem e a fazerem teatro, recentemente dirigiu e escreveu trampolinagens para Cia. Mestres da graça de Palmeira dos índios. Presenteou o Filé com esse registro do FESTIVAL FESTA, que agora compartilhamos com tod@s! Quer saber mais sobre o Homero? Temos uma entrevista super divertida com ele no podcast do filé, acesse aqui.
Artistas presentes no FESTIVAL FESTA:
O FESTA - @festataquarana
Grupo Imbuaça (Aracau- SE) - @imbuaca
Teatro Camboio de Doido (Taquarana - AL) - @camboiodedoido
Trupe de Teatro de Bonecos de Alagoas (MACEIÓ - AL) - @
Pastoril da Santa Cruz - @pastoril_sc
Julian Neves (Palmeira dos Índios - AL) - @juliannevesduarte
Filhos da Marta - @filhosdamarta
Rodrigo Lima - @limardr
Danny Menezes - @_danny.menezes
Cia. Biribinha Teatro e Circo (Arapiraca - AL) - @biribinhacircoshow
Clowns de Quinta (Maceió - AL) - @clownsdequinta
Cia. Fulô de Mandacaru (Arapiraca - AL) - @ciafulo
Cia. Príapo - @ciapriapo
Luis Miguel - @
Festal 2021: Descendo pela máquina de Pinball
Tessitura_Jocianny Caetano
Legenda: registro da performance Estranhe de Ayó Ribeiro. Fotografia por: Alvandy FrazãoTexto alternativo: performer no centro da imagem, sustenta-se entre fitas na cor preta que são presas através de três mastros de ferro. Atrás du performer está a entrada da Secretaria de estado da Cultura de Alagoas.Em um desses programas sobre coisas grandiosas inventadas por humanos, uma mulher explicava porque era moradora daquele maior prédio do mundo, e ela conta que está ali porque quer participar da história, e mesmo com aquele prédio de 828 metros balançando, ela participa. Aquela mulher parece com essa que escreve.O Pinball é um brinquedo retangular, que consiste em duas palhetas que seguram a bola e a empurram em vários desafios e obstáculos até que se chegue no final. O Festival de Artes Cênicas de Alagoas em 2021 - FESTAL 2021 é sobre girar, e esse movimento da infinitude de um círculo é uma idealização. O que se quer é circular, mas ainda estamos aqui descendo pela máquina de Pinball, é isso que percebemos na terceira gira do FESTAL com o tema de “acessibilidade”, a resistência de um Festival que permanece há seis anos e em sua sexta edição buscando aproximar-se de quem vê e quem faz artes cênicas em Alagoas, desta vez no formato online.
A janela é muito pequenaA mesa redonda com o tema “Acessibilidade: potências, entraves e pré-conceitos na produção e recepção de trabalhos artísticos” contou com as presenças de Igor Rocha, professor, ator e palhaço e da Isabel Alvim, pedagoga e poeta. São histórias potentes na arte, houve muita reflexão e luta para ocupar os seus lugares, apesar das cadeiras estarem reservadas para eles na mesa, as condições para chegarem até ela não foram iguais, e aqui cabe uma reflexão: onde está realmente a deficiência? Na pessoa ou na sociedade?O palhaço Surddy de Igor trouxe para ele uma possível resposta do que significa a arte, que o corpo é uma língua que dialoga com u outru. Isabel se encontrou na poesia Slam, um espaço para compartilhar gritos guardados e corações que batem em todos os lugares. Igor apresenta Lucas Ranon, surdu cartunista alagoano, Isabel traz Catharine Moreira, atriz, poeta, Slammer e dançarina que lhe impulsionou a ocupar sua cadeira. Pessoas que oportunizam outras pessoas porque a janela é muito pequena. E nessas falas provocadoras para nós ouvintes, o que fica é a certeza de que vocês não são capazes de serem menos, continuem trincando os vidros.O que se nota é um encontro nas falas sobre o momento em que se viram artistas, no dia 26 de setembro, dia du surdu. Pode ter sido em uma quinta para Isabel, em um sábado para Igor, mas o redescobrimento foi feito a partir desta data; o que nos faz voltar ao questionamento da Isabel, quando perguntada sobre a eficácia da legenda e da tela de acessibilidade, que questiona: por que a janela é tão pequena? Por que não ser 50%? Estamos em outubro, e refletimos sobre isso, mas o FESTAL, apesar de disponível em seu canal do Youtube, possui um mês de duração, o dia 26 de setembro apenas 24 horas, precisamos começar a reformar a janela.O que acham de começar essa reforma de vez? Compartilho alguns nomes de artistas e coletivos aqui, e os convoco a também compartilhar nos comentários, valendo: Carolina Teixeira, Instituto Teatro Novo, Vitória Bueno… (continue)
Tapete marrom de pelos
No dia 15 de outubro de 2021, dia dus professores, a prática artística “O que existe entre nós?” da Companhia Teatral Mestres da Graça, localizada em Palmeira dos Índios, foi compartilhada no Festal 2021. São três personagens em cena, corpos que possuem a intenção de se perder mas ainda não são entregues ao abismo, porque se distribuem nos limites da dimensão do tapete marrom de pelos. Somus convidades a investigar as relações, mas no escuro das entradas e saídas e choque entre lirismo e cotidiano feroz, ouvimos o som curto e pontual do músico presente, um ponto e vírgula, exclamação, reticências e fica a interrogação: o que existe entre eles?A morte de Leonardo, por apenas andar de mãos dadas na rua ao lado de seu companheiro nos causa revolta e tristeza porque nada é ficção, apesar da poesia com que se diz, o coração figurativo branco neve que repousa logo atrás do casal no chão do tapete marrom de pelos, que agora sangra, é real. Quatro casos de homofobia por dia, 5 mil mortes em 20 anos, um professor Acioli no mês de setembro. Há uma ação dita de Palmeira dos Índios e uma reação vinda de vários lugares, porque o arquivo cênico nunca morre, ele vive sempre que há alguém para acessá-lo, que esteja disponível, presente. O palco entre artista e espectador é sagrado, seja no espaço que estiver.
3x4 para guardar
Legenda: registro do espetáculo Eu sem você não sou ninguém da Cia. Turma do Biribinha de Circo e Teatro de Arapiraca. Fotografia por: Samuel FotografiasTexto alternativo: ator e seu boneco no centro da imagem, ambos com maquiagem de palhaço. O ator à esquerda da imagem possui expressão de surpresa e blusa de listras horizontais nas cores, azul, cinza, vermelho e branco. O boneco está a direita da imagem, veste um colete zadrez amarelo, e blusa listrada nas cores vermelho e branco. No cenário atrás dos dois existem figurinos de cena e uma mala de bolinhas coloridas.- Eu caí, e foi bom.Denise M. LuccaEu sem você não sou ninguém da Cia. Turma do Biribinha de Circo e Teatro de Arapiraca, é o presente de um amigu. Uma foto 3x4 para por na carteira e te acompanhar. Ao assistir você sai com com a história de alguém de lembrança, Teófanes e seu boneco Biribinha, um fim que é o começo. Também é um diálogo com o tradicional e o atual, e que potência que o circo tem! Eles perguntam e nós respondemos, pelo chat ou pela tela.O tempo da resposta está com eles há mais de 63 anos, quando Teófanes nasceu, nasceu também um leão. Um leão por dia desde então, Teófanes, Biribinha, Seliana e sua turma precisam matar, para manter o picadeiro que desta vez surge em luzes piscantes que formam um triângulo, remotamente. A necessidade de sobrevivência é o que torna Biribinha acessível a nós, e nos faz refletir se somos bonecos, ou se somos gente. Ou ainda, se estamos conscientes todo tempo ou são as quedas que nos tiram da alienação. A queda faz a gente se descolar e refletir sobre esses fragmentos. Teófanes caiu, e foi bom.
Placa da rua do solO que fica dito na performance Estranhe de Ayò Ribeiro, é que precisamos estranhar o centro, esse lugar tão terrivelmente confortável que traduz uma impressão de equilíbrio. O que fica dito, é que u performer está respondendu, sinalizandu e mastigandu lugares impostos ao corpu trans-não-binárie. Existem lugares impostos a corpus trans não-bináries? Ou será que ainda vão criar para vender, cobrando alguma moeda nova tipo pink money?Ayó, atrás de você aparece o sol, é uma placa com o nome da rua. A rua do sol, o palácio do governo, o azulejo de uma representação de Jesus cristão, bandeiras, uma porta da secretaria de cultura que se fecha, pausadamente. São muitos signos, muitas simbologias, muitas reações. Ayó escancara o desequilíbrio, a censura, caixinhas de gênero, as notinhas de repúdio. Dançar aqui é urgente, é um reexistir. Essa performance se propõe a debater sobre as saídas e discursos criativamente preguiçosos que são impostos a corpus que não cabem na caixa. Confiem nelu e elu fará grandes coisas.A terceira gira do festival termina com o show da cantora Malta Lee, que com sua calmaria canta sobre sobre “us que querem ser amadus e não permitem-se ao amor”. A delicadeza dela se encontra com us interpretes de libras : Danilo Jatobá, Roberta Rafaele, Charliane Ferreira, Bruna Vasconcelos, Renata Costa e Bárbara Lustosa, que buscaram traduzir com o máximo de gentileza cada palavra dita pelus artistas.O engenheiro do prédio que foi citado no início do texto conta que ele balança mas que sua estrutura engana o vento. Que o FESTAL continue enganando o vento, sendo uma palma de mão aberta que se empenha para que o encontro das artes cênicas em Alagoas seja sempre acessível a todes, que a busca seja sempre ser um girar mesmo que descendo pela máquina de pinball.
“Estendam ás mãos já! - Narrativas Individuais para Construções Coletivas”
Tessitura_ Lili Lucca Ainda andamos de mãos dadas Cacau, aqueles que na cena construíram espaços de criação de arte ao seu la...