Da Lama à Lona_ Do Circo á Chico Science ..... Pernambucamos todos e todas! Tessitura_ Lili Lucca

 

No Recife e no dia 25 de abril de 2025, cheguei ao parque da Macaxeira, a lona já estava cheia, filas se formavam para conseguir mais uma senha, luzes que piscavam de dentro do circo, já se ouvia a música tocando. Aquela lona parecia tão pequena, como assim tanta gente ainda na fila, todos ficariam de fora? Eu e mais algumas pessoas ali, começamos a circular a lona para achar uma fresta e tentar assistir o espetáculo, antes de começar algumas partes dessa mesma lona foram erguidas para que todos pudessem ver o espetáculo.

Caminhar até o teatro é sempre um momento bom. Conseguir acompanhar o palco giratório e os artistas que circulam nessa cena, é algo que faz parte da minha formação enquanto artista de teatro. Olhar para essa cena, registrar na memória e sair escavando o que ela já viu em cena é incrível. Você conhece o Palco Giratório? O palco Giratório, está em sua 27º edição, nesta serão 16 grupos de 15 estados diferentes percorrendo 96 cidades até dezembro.

Ir para o Recife, com meu amigo de vida, Magnum, no mês de abril foi um momento de tanta elaboração afetiva e cênica que me deixou nostálgica por alguns dias, deixei o tempo e a experiência da memória me abraçar. Em meio as minhas memórias de tantos artistas que conheci em anos acompanhando o Palco Giratório em Alagoas, escutar Fátima Pontes, uma mulher do circo que diariamente vai superando limites de se trabalhar com arte no nosso país, é compreender que hoje o palco giratório é um dos espaços mais democráticos para os artistas cênicos do Brasil. Acompanho esse projeto do Sesc Brasil, desde 2004 e acredito que o Chico e Fred, quando em 1992, escreveram o manifesto, já estariam ao meu lado aplaudindo e reverenciando Fátima Pontes. No Manifesto Manguebeat - Caranguejos com Cérebro, Chico Science e Fred Zero Quatro, já anunciavam:

“Mangue, a cena

Emergência! Um choque rápido ou o Recife morre de infarto! Não é preciso ser médico para saber que a maneira mais simples de parar o coração de um sujeito é obstruindo as suas veias. O modo mais rápido, também, de infartar e esvaziar a alma de uma cidade como o Recife é matar os seus rios e aterrar os seus estuários. O que fazer para não afundar na depressão crônica que paralisa os cidadãos? Como devolver o ânimo, deslobotomizar e recarregar as baterias da cidade? Simples! Basta injetar um pouco de energia na lama e estimular o que ainda resta de fertilidade nas veias do Recife.” (trecho do manifesto Manguebeat)

Ao chamando dessa emergência surge também em 1996, no Recife a Escola Pernambucana de Circo (EPC), promovendo inclusão através da arte, para jovens e crianças aliado a pedagogia do circo. Fátima Pontes, juntamente com Chico Science, por meio do seu trabalho, injeta energia em jovens estimulando toda a capacidade de criar o novo. O trabalho educativo e de formação feito por Fátima Pontes, junto a Escola Pernambucana de Circo, é um desobstruir veias e colocar vidas eufóricas para nutrir a cidade com arte, arte que surgem do que tem de mais abundância da lama, vidas para resplandecer. Há arte para resistir, para educar, para emancipar, transformar e emocionar e todas elas a Escola Pernambucana de Circo, tem realizado ao longo de seus 29 anos de existência. Fátima Pontes e a Escola Pernambucana de Circo são os homenageados pelo Palco Giratório esse ano.

                                                             

Existência essa que está circulando pelo país no Palco Giratório, o espetáculo Espetáculo Circo Science - Do mangue ao Picadeiro, é a experiência enérgica do circo, do improviso a dinâmica do picadeiro e o desenvolvimento junto com a plateia. Do mangue ao picadeiro, eles colocam você pisando com os dois pés na cultura manguebeat, é olhar diretamente para a periferia do Recife, toda sua diversidade corpos, de músicas, todo traquejo de corpos caranguejo que com beleza vivem do caos a lama, do frevo ao passinho, do maracatu ao mangue e transformam a precariedade da vida em arte única e radiante. É conhecer e vivenciar a cultura do Mangue Boy e da Mangue Girl, encher os pulmões de ar para cantar o mangue de pé, é colocar seu corpo no beat do mangue, são multicoloridos homens e mulheres que se completam em uma grande roda, com hinos que cantam a cultura, a revolta e a arte de um povo e um ídolo. Chico Science, é vivo no seu povo, uma Nação Zumbi.

A cena é a narrativa musical de Chico Science à corpos sublimes do circo.  A lama e a lona sobre corpos.  Mas esses corpos circenses, que nascem da lama/lona são a força, a coragem, a luta e a poesia de formas que desafiam as leis da física e que nos hipnotizam em números circenses memoráveis. Ao tempo que não desgrudamos os olhos da cena, estamos junto com eles cantando e dançando como uma grande roda de manguebeat, nossos pés quase desgrudam do chão a todo momento com vontade de pular.  

                                                     


E somos convidados a toda ocasião a participar da cena, aplaudindo comemorando os feitos acrobáticos, de quem teve sua  vida com seus apuros, mas a arte lhe convocou e hoje está no palco. Palco e picadeiros em que vidas são transformadas pela Escola Pernambucana de Circo, suas vivências, sua identidade, seu trabalho de formação e educação social pela arte. Por onde circular o palco Giratório, o picadeiro da Escola Pernambucana de Circo, o manguebeat, Chico e a Nação Zumbi, a cultura pernambucana e seus artistas, haverá o convite para roda. Que você permita-se pular, entrar na roda e/ou cantar com todos a uma só voz ’A Praieira ‘:

“E é praieira, vou lembrando a revolução
 Vou lembrando a revolução
 Mas há fronteiras nos jardinsda razão”
A praieiria/Canção de Chico Science e Nação Zumbi/1994

Que esses artistas que circulam pelo Palco Giratório 2025, ocupem memórias, emocionem pessoas, transformem realidades, hoje o palco giratório é um espaço de revolução no sentido de transformar, de dar acesso à arte, ao teatro. Quantos são os jovens que conseguem ir ao teatro, conhecer artistas do seu país para além das telas?

O palco giratório além de ser um projeto que dá visibilidade a artistas de todos os estados do nosso país, cumpre um papel de formação cultural e intelectual na vida de muitos brasileiros e brasileiras.

Viva Fátima Pontes e a Escola Pernambucana de Circo!

Um salve aos fazedores do Palco Giratório e todos, todas e todes artistas que circulam nesse país!

UM VIVA A CHICO SCIENCE E A NAÇÃO ZUMBI!!!

“Computadores fazem arte
 Artistas fazem dinheiro, dinheiro
 Computadores fazem arte
 Artistas fazem dinheiro, dinheiro”
/Computadores Fazem Arte/ Chico Science/Composição: Fred Zero Quatro

A todas as plateias: em julho temos em circulação em Alagoas.


FICHA TECNICA:  

Produção: Fátima Pontes e Escola Pernambucana de Circo.

Elenco: Ítalo Feitosa, Maria Karolaine, Gabriel Marques, Bruno Luna, João Fernando, João Vítor. 

Roteiro e Dramaturgia: Fátima Pontes.

Direção: Ítalo Feitosa.

Assistência de direção: Fátima Pontes.

 Músicas: Chico Science.

Direção Musical: Vibra Dj e equipe (D Mingus, Magi Brasil e Ugo Barra Limpa).

Execução da sonoplastia: Blau Lima (Everton Lima).

Preparação de elenco: Felipe Braccialli.

Coreografias: Patrícia Costa, Ítalo Feitosa e Trupe Circus.

Figurino: Marcondes Lima.

Execução do figurino: Maria Lima.

Projeto de Iluminação: Felipe Braccialli. 

Execução de Iluminação: Tales Pimenta. 

Videocenografia: Gabriel Furtado.

Fotos do centro de Recife: Nando Chiappetta.

 Tipografia Manguebeats: Leonardo Buggy, Plínio Uchôa Moreira,

 Gustavo Gusmão, Jota Bosco e Kboco.

Assessoria de Comunicação: Thiago César.

Fotógrafo: Rogério Alves.

 Designer: Cláudio Lira. Acervo Virtual Familiar da memória escrita de pensamentos,

 poesias e ideias de Chico Science.

 Reciclagem das lonas utilizadas no espetáculo: Cooperativa de Mulheres Ecovida Palha de Arroz.

 

                                                                                  





Da Lama à Lona_ Do Circo á Chico Science ..... Pernambucamos todos e todas! Tessitura_ Lili Lucca

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