CRÍTICA de "Silêncio" : Você já conversou com um eleitor do Bolsonaro hoje?

Tessitura_Jocianny Carvalho



        A guerra não é senão um negócio,
        em vez de ser com queijo, é com chumbo
       e se o custo ultrapassa tuas forças
não estarás na parada da vitória.
    (Brecht, Bertold. Mãe Coragem e seus Filhos, 1939)



Quarta-feira, dezessete de abril de dois mil e dezenove. O couro é amaciado, tratado, sentado, exposto. A carne senta, sente, corre, sacode, dispersa, o corpo se põe, sobrepõe, os pés se isentam. Tudo isso exposto é reconhecível. Se houvesse uma releitura de Abaporu de Tarsila do Amaral, talvez os pés fossem menores que a cabeça, mesmo que o círculo não enxergue o quadrado assim, nem o contrário, os dois parecem estar presos nessa imagem, e nem os maiores sociólogos apontam outra estratégia que não seja a do diálogo. Um de dois acredita no círculo, na bola, cinesfera e na ciranda. O dois de dois acredita no quadrado, terra plana, no quadro e quadrilateral. Quando ambos vão perceber que são linhas? Que linhas serão essas? Onde podemos nos desestruturar para voltarmos ao ponto inicial? Diálogo, para existir necessita de dois pontos de vista: o quadrado e o redondo. 

Significado de Diálogo:
substantivo masculino

Conversa; fala interativa entre duas ou mais pessoas. (Dicio, dicionário Online)¹

.


O espetáculo Silêncio, com direção de Reginaldo de Oliveira e feito pelos educandos do módulo IV da E.T.A. (Escola Técnica de Artes), traz várias imagens potentes sobre a nossa sociedade e críticas atuais presentes principalmente em redes sociais, expõe os textões do facebook e todo descontentamento por parte de um dos lados, mas no fim expõe o que talvez seja o ponto em comum das duas linhas: a passividade e a rejeição, o deslike, o deixar de seguir, o unfollow, bloquear, curtir, amei, hashtags pra subir nossa afirmativa, o alcance da publicação, o algoritmo que nos deixa confortáveis, te falo in box. E fomos ficando terrivelmente cansados de dialogar. O lugar do espectador também é direcionado a passividade, somos pegos contemplando a nossa auto afirmação e  nossa adorável maneira de gritar no silêncio, por que neste caso, o caos só é estabelecido na confusão de voltar ao mesmo ponto, pois não há um contraponto que nos leve a transformação. Estar no palco, a escolha de artista, já é por si só política, inegável e civil, devemos nos atentar aos discursos, assim como quando na descoberta do corpo somos minuciosos e pragmáticos, é preciso reaver a atenção à palavra para não correr o risco de sermos impotentes, dispensáveis:


A relação entre o teatro e a política tem sido tensa há dois mil e quinhentos anos. Aristófanes investiu, a partir do palco, contra demagogos e advogados da Guerra do Peloponeso; ele o fez na soberana forma artística da Comédia Ática, que atrai como forma teatral original mesmo lá onde as alusões políticas não são compreendidas. Mas quando se trata somente de provocação política, a sua atrelagem ao palco torna-se dispensável. 
(Berthold, Margot. História Mundial do Teatro.)²


O espetáculo Silêncio não é somente uma provocação política, a dramaturgia diz que não, o corpo diz que não, a iluminação diz que não, a cenografia diz que não, as fortes imagens criadas dizem que não, então qual o ponto enquanto artista? Reconhecer a amplitude de sua obra e não colocá-la num nicho do discurso político do círculo, ou reconhecer a autocrítica criada. E voltamos mais uma casa, que trata do espaço: Onde nos tornamos potentes? Em que lugar torno a criação indispensável? Em que zona consigo estabelecer um diálogo?  Pego meu sapato e volto para casa em silêncio? 


 Referências:
¹https://www.dicio.com.br/dialogo/
² Berthold, Margot. História Mundial do Teatro. 5 ed. São Paulo: Perspectiva, 2011. pp. 502





Ficha Técnica:


Diretor da Instituição _ David Farias

Direção de “Silêncio!” _ Reginaldo Oliveira

Professores colaboradores _ Alex Cerqueira, David Farias, Geová Amorim, Toni Edson e Valéria Nunes


Elenco _ Camila Moranelo, David André, Dávison Souza, Eduardo Alcântara, Emmanuel Lima, Jaysllany Florêncio, John Fortunato, Josival Silva, Marina Sales, Matheus Fonttes, Milka Freitas, Tauan Pita, Tamário e Thame Ferreira.



Produção Executiva:

Teatro – Graduação _ Auryelly Matos, David William, Gaby Ferreira e Rayanne Accioly

Arte Dramática – módulo 2 _ Adda Feitosa, Alonso Rodrigues, Jéssica Marques, Karol Peixoto, Lavinnya Luciani, Millena Brandão e Rauny Soares

Produtoras convidadas _ Karlla Sart e Priscila Angel

Iluminação _ Moab de Oliveira e Adda Feitosa

Sonoplastia_ Brother e Priscila Angel

Concepção de cenário _ Moab de Oliveira

Concepção e execução de figurino _ Alex Cerqueira

Concepção de maquiagem _ Alex Cerqueira

Fotos_ Jadir Pereira e Washington da Anunciação

Homenagem _ Roberta Oliveira


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