Aldeia Arapiraca 2019: "Os Filhos do Céu e os Corações de Tambor" do Coletivo Heteáçã


Tessitura_Bruno Alves

É bem antes do surgimento da escrita que está o ato de narrar histórias. As histórias que nos são contadas ao longo da vida nos formam, nos ensinam e fortalecem em nós, na maioria dos casos, um sentimento de pertencimento a uma comunidade no mundo. Elas nos revelam e nos mostram a força da palavra na construção de um mundo melhor, mesmo que imaginado. Esse universo possibilita uma viagem para além daquilo que é real e cotidiano, nos levando a entrar em outras possibilidades de ver e sentir o mundo ao redor. As histórias dão sentido a vida, encontram outros sentidos, nos fazem ver as coisas de outras maneiras.

O Coletivo Hetéaçã assume essa tarefa de nos mostrar e nos revelar o mundo através da contação de histórias no seu espetáculo “Os filhos do céu e os corações de tambor” que fez parte da programação da Aldeia Sesc Arapiraca 2019.






Foi num espaço ao ar livre voltado para a discussão e o fomento da preservação da mata ciliar do Rio Perucaba chamado ECOBRISA, no residencial Brisa do Lago em Arapiraca, que o espetáculo aconteceu. 

Não por acaso a curadoria do SESC escolheu esse espaço para a realização da apresentação. Os espaços nos contam histórias. Somente de ver e estar na Ecobrisa percebemos a relação das pessoas com aquele espaço e o quanto as narrativas estão ligadas a ele.

Era um entardecer, com chuviscos e arco-íris, com crianças e adultos ao redor para se reconhecerem nas histórias.

O espetáculo é composto por narrativas da tradição oral africana com músicas originais do grupo. Muita coisa tem mudado no espetáculo ao longo dos anos. Toni Edson, que é também o diretor, e Manu Preta executam a sonoplastia e trilha sonora ao vivo junto com as atrizes e o ator. 

Falar da musicalidade é ressaltar a importância dela e como ela é construída de uma maneira que se torna um elemento fundamental na composição das histórias. Uma experiência enriquecedora e executada de forma sensível e vigorosa, mas que em algum momento nos perguntamos de onde vem aquelas pessoas que cantam e por que elas não adentram mais essa história, como parte dos povos cantantes, contentes e contintas. Seriam de outro povo do mundo das histórias? Estão ali por que são parte de todos eles?

Não há como não se deixar envolver pelas histórias que ali são contadas, muitas vezes por formas diferentes de narrar entre os três contadores. Como pessoas do teatro é comum que ao contarmos histórias a gente se envolva ao ponto de teatralizá-las, mas em alguns momentos parece destoante as formas de narrar entre os contadores. Às vezes existia uma linha mais linear de narração e parece que falta uma maior entrega a brincadeira de contar histórias e fazê-las de forma teatral arriscando-se mais na construção vocal e corporal, pois o espetáculo propõe uma corporeidade muito intensa na construção das histórias e é importante ressaltar a presença do corpo que conta como um dos elementos fundamentais na construção do que vimos.  Não que a linearidade seja ruim, pelo contrário, nos envolvemos de toda maneira, apenas com esse texto tento observar as formas distintas de contar.



O espetáculo possui uma visualidade bastante alinhada, com figurinos, maquiagens e adereços que nos trazem texturas, cores e volumes que encantam pela composição.É um espetáculo feito para encantar nossos ouvidos e olhos. Causa-nos sensações, desperta-nos medos, curiosidades, dentre outros.


Identificamo-nos com os povos que vem de longe, de um lugar talvez além do mundo real, para nos contar histórias. E ao fim queremos ir junto com eles para o mundo dos Cantantes, Contentes ou Contintas.


Espetáculo _ Os filhos do céu e os corações de tambor
Realização _ Coletivo Hetéaçã
Fotos _ Jadir Pereira

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