Festal 2019: O IMPORTANTE É NÃO PARAR DE CAMINHAR

Tessitura _ Felipe Benicio 

   A quinta edição do Festal teve como proposta levar oficinas e espetáculos artísticos para diferentes bairros da cidade de Maceió. Um gesto importante na descentralização do acesso às produções artístico-culturais realizadas nesta cidade, que acabam ficando concentradas em bairros como Centro e Pajuçara. Em tempos de severos ataques à cultura em nosso país, em que até mesmo a palavra “educação” é vista como “ideologizada”, agir no sentido de uma democratização da arte foi um dos grandes méritos do Festal deste ano.   

   Em sua circulação, um dos bairros contemplados pelas ações do Festal foi o Bom Parto, comunidade que abriga um importante espaço de resistência e arte em Maceió, o Quintal Cultural. Idealizado por Rogério Dias, desde 2007 o Quintal Cultural oferece atividades recreativas, educacionais e culturais às pessoas que residem no Bom Parto, sendo também o local onde são realizadas apresentações teatrais e musicais de artistas alagoanos/as. 



   Fui ao Quintal Cultural primeira vez há mais de 10 anos. Estava com o grupo de teatro da escola, o Albatroz – Poetas do Poente, coordenado pelo professor, ator e poeta Nildo Santos. Naquela ocasião, fizemos uma apresentação que tinha como elemento principal a declamação de poemas. À época, o Quintal Cultural era isso mesmo: um quintal, com chão de barro batido e uma pequena arquibancada de madeira, sem qualquer proteção contra a chuva. Mas à época, assim como hoje — quando estrutura física passou por melhorias —, o aspecto cultural é o elemento que traz mágica ao lugar.  


   Em outubro, fui convidado pelo Filé de Críticas para ir ao Quintal Cultural fazer a cobertura das atividades do Festal no Bom Parto, mais especificamente no dia reservado ao sarau — evento realizado sempre no último dia do Festal em cada bairro, e que congregava diversas linguagens artísticas em sua programação. O dia do sarau calhou de coincidir com o evento do dia das crianças organizado pelo Quintal Cultural. A princípio, uma ótima coincidência. Mas, na prática, as coisas não funcionaram tão bem assim. 




   As atividades tiveram início às 16h com o recital das crianças que participam do reforço escolar oferecido pelo Quintal. Foi lindo vê-las recitando poemas de Manuel Bandeira e Cecília Meireles, no melhor estilo jogral, algumas muito tímidas, outras mais desinibidas. Depois do recital, uma vez que o espetáculo Reves, da companhia teatral Os Vernetras, havia sido cancelado, quem assumiu o palco foram os B-boys do grupo Quilombrothers Crew, com seus malabarismos corporais que são sempre uma atração e tanto. Por fim, à noite, houve o show de brega-pop do cantor Hadrian Vicary.   



   Mas, em algum momento, ficou claro que o sarau do Festal e o dia das crianças promovido pelo Quintal Cultural eram dois eventos distintos. Por duas vezes, a programação do sarau foi interrompida: em uma, para a brincadeira do quebra-pote; em outra, para que os advogados e as advogadas da Acrimal pudessem entregar os presentes para as crianças, pois — citando a justificativa dada pelo próprio Rogério Dias — eles/as tinham hora para ir embora. Nesses momentos, as atividades que estavam ocorrendo ou eram pausadas ou apresentadas para um público muito reduzido, composto pelos/as membro da organização do Festal. Uma pena, afinal, quando pensamos em duas excelentes iniciativas culturais unindo forças para a realização de um evento, esperamos uma ação mais estruturada, uma maior articulação — o que, por algum motivo, não pareceu ter ocorrido de todo.  


   Isso, claro, não diminui a importância das duas iniciativas — tanto o Festal quanto o Quintal Cultural —, uma vez que ambas, hoje, são importantes trincheiras desse movimento de democratização da arte e do acesso à cultura em Maceió. A experiência, creio, há de ensinar os passos desse caminhar em conjunto. O importante é não parar de caminhar. 


Serviço:
Ação _ Festal 2019
Etapa _ Bairro Bom Parto
Fotografias _ Jadir Pereira

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