Festival FICAR e o RISO que FICA!


Tessitura_ Lili Lucca

E se eu pedir pra você fechar os olhos e ouvir o som do riso de uma criança?



Você consegue?


Qual a sensação?


Dá vontade de rir?


Dá vontade de FICAR naquela risada pra sempre.


Você já tá rindo, o sorriso contagia né?



Ele fica. Ele tem a potência de FICAR. E ele arruma de FICAR num lugar bonito e leve da memória. O riso. Ele consegue transformar todo momento presente e leva nosso corpo a outro estado físico. Ele, o riso quando vem pra FICAR muda nossa alma e melhora nossa vida, nem que seja por alguns momentos. Parece clichê tudo que digo aqui, mas o registro do Primeiro FESTIVAL INTERNACIONAL DE CIRCO E ARTES DE RUA - FICAR, só vale a pena ser feito ao som do riso, nem que seja pela memória. Sorte daqueles que riem e tem por perto o riso de uma criança.

O FICAR, aconteceu entre os dias 15 à 17 de novembro de 2019, na rua fechada e na praça do Skate, na cidade de Maceió, um festival encabeçado pela Cia Fenomenal, mas que juntou-se a vários artistas de Alagoas, do Nordeste, Espanha e Argentina. O Festival que traz em seu discurso o fortalecimento e a democratização da arte, tem como seu palco a rua, a praça, o corredor dos carros. Tiveram apresentações de arte na rua, atividades formativas e mesas redondas no decorrer de seu acontecimento.

O que é preciso para que um artista mostre sua arte? O público. A Cia. Fenomenal vem há alguns meses ocupando a Rua Fechada do Bairro da Ponta Verde com seus espetáculos e números circenses, foi a partir daí e da rede de artistas de circo e rua que lá estão nessa ocupação que surgiu o FESTIVAL FICAR.

Festival,
relativo a ou próprio de festa; festivo.
que tem aparência, modo, forma de festa.
em que há alegria, prazer; aprazível, afável, jucundo.
que gosta de festa, de alegria (diz-se de pessoa).



Estive no festival em dois dias: sábado(16) e domingo(17), e a sensação de alegria e de leveza era presente em quem estava lá, as apresentações aconteceram ao longo da praça do Skate, a praça toda iluminada com bandeirolas, uma feira que acontecia nos caminhos que levavam as apresentações. Crianças brincando na praça, crianças correndo para sentar no chão em frente aos palhaços e palhaças. O Palhaço Bruguelo era o mestre de cerimônia e com o microfone era andarilho e saia chamando a todos. E os que vinham de longe iam se chegando e perguntavam: 

- Já começou?

No sábado nos sentamos debaixo da árvore iluminada e assistimos o então Palhaço Bruguelo e a Palhaça Zulpeta, chamar as variadas atrações. Começou pela Cia Zambaq, com suas danças tribais. No meio dessa grande variedade de artistas, assistimos atentos às apresentações dos alunos e alunas da Sururu Circo, com força e improvisação apresentaram seus números no tecido acrobático. A acrobacia nos tira suspiros de medo, pelo outro, o tombo acontece. Mas a resistência aliada a beleza do movimento é inexplicável. A ideia de deslizar pelo tecido nos deixa encantados. Como podem elas escorregar pelo tecido e dançar no ar? Ficamos entre o alarme e a fantasia. Mas a Sururu Circo, nos lembra que a magia da acrobacia do tecido é labor. Quem tiver coragem que Sururu-cirque-se !


E o espetáculo, deu-se entre números de encanto, ânimo e palhacices. Além do tecido, tivemos acrobacias de solo com a presença de Os Mutantes, um grupo de treinamento de circo, onde presenciamos à contorcionismos e dança. Tudo feito com muita nobreza e graça. Teve também malabares, mas não era só o equilíbrio, era necessário coragem. O Circularte ateou fogo e ao som dos gritos e olhos atentos das crianças esquentaram o picadeiro. 

E teve a graciosidade, o brilhantismo da dança cigana de Kamilla Mesquita. Confesso que entre uma apresentação e outra eu observava as crianças assistindo a Kamilla, e ela foi ovacionada pelos olhos das pequenas que a viam dançar. 

Não acabou, ainda no sábado o Coletivo NO VERMELHO, trouxe uma dupla de novos palhaços, em um número clássico de palhaçaria em dupla, onde sem o público a história não calharia, e as crianças estavam ali atentas a ajudar, então, aconteceu. Ainda no sábado tivemos um número do palhaço Pernambuco, musical e mágico, mas para nossa alegria ele voltou no domingo…


E eis que de repente o sortilégio sertanejo se aproxima, era o Matuto, de Rafael Santa Cruz que levou todos ao deleite. A musicalidade de sua flauta e seu jeito maroto de ser matuto nos cativou, os risos das crianças eram delirantes. A mágica acontecia de forma singela e espetacular. Bolinhas vermelhas que brotavam de seu corpo todo, um chapéu que magicamente deixou meninos de rosa e meninas de azul, e estava tudo bem. As argolas que ultrapassam nossa curiosidade e enganavam nossa visão, tudo isso sem perder a simplicidade e a poesia de ser matuto. Do ser palhaço sertanejo, que veio de Pernambuco e que foi glorificado pelas gargalhadas sem fim das crianças, que como nós adultos, hipnotizados pela sua magia. Éramos só aplausos.

Chacovachi, vem logo após nos contar um pouco de suas andanças, e nos conta que o palhaço quer aplausos. Em uma conversa irônica e não menos pilhérica com adultos e crianças, ele montou uma orquestra com garrafas de vidro chamando o público a participar, e os regeu com entusiasmo e força. Nesse diálogo haviam perguntas certeiras que levaram-nos ao riso extremo e a consciência de imediato.


“ Toda piada tem uma tragédia por de trás”. CHACOVACHI


Chacovachi, trabalha há anos em busca do riso. Riso é responsabilidade. É nítida a força e a certeza de suas palavras, enquanto para alguns de nós o ridículo da medo, ele mostra que o dito ridículo é seiva, é luta, é coragem de ser e de viver a partir daquilo que te move. Todos os seus números eram um desafio. Desafio que dependia de sua escolha e ação, ele na sua ação nos apresenta que a vida é curta, ou você vive o desafio, ou passa a vida fugindo dela. A vida passa. O que ficam são as experiências, mas elas só ficam durante a vida.


CHACOVACHI- “Você gosta de viver nesse mundo?”

Menino – SIM.
Chacovachi - “Já vai passar.”


Risos e aplausos da plateia adulta, mas o riso contagia. As crianças além de rir estavam interessadas nas bolas de sopro que sarcasticamente ele dava formas. 





A busca pelo riso do palhaço Chacovachi, é o resultado de uma vida dedicada a arte, uma vida onde a rua serviu de palco, um palco democrático que acolhe, e que apresenta desafios diariamente. A rua é o palco que faz o real encontro entre o artista e as pessoas.

Vi o FESTIVAL FICAR como um encontro. Uma grande festa de artistas alagoanos e convidados da Cia Fenomenal, e que festa bonita de se ver. A arte na praça, a praça cheia de gente, gente de passagem que ia ficando. Todo artista de circo, tem no seu histórico o andar e estar em vários lugares espalhando sua arte e seu fazer. É esse o seu único ofício e ele seguirá em procura dos risos e aplausos, nunca esqueça que ele anda com um chapéu, deposite lá tudo que tiver de bom. Lembra do riso da criança e da sensação gostosa de rir? Tá tudo na sua memória. É feito pelo riso. O riso que é dado pelo palhaço. Ele que procura o riso e te oferece no encontro. O riso que eleva e transforma. É sentir a vida, esse riso é o sentido de vida do palhaço, é sua profissão e sua existência.

A realização do FICAR encerra o ano de 2019 com Riso e Resistência, com artistas ocupando as ruas e colocando seu trabalho em contato direto com o público. Democratizando a arte. Aplauso e estimo por entusiasmo à todas e todos artistas que edificaram o festival. 

Eu acompanhei 4 festivais/mostras esse ano quase por completo aqui em Maceió, e consegui ir até o FICAR, e vi mais uma vez grandes trabalhadores em cena, executando com toda força e coragem sua função. Eles são artistas circenses, artistas de RUA. Uma festa que foi extremamente democrática e que teve no chapéu seu capital, mais uma vez a arte permanece e continua. Somos criadores e inventores, lutaremos na manutenção e vida da arte. Confio que todo riso e contentamento do público tenha sido combustível para que o festival fique na cidade. 

FICAR é resistência e o poder da arte na rua para todos e todas.

Que o som do riso os impulsione a mais, e repito a pergunta de umas das crianças que estava lá e após presenciar a foto final e os agradecimentos, gritou:

“ Quando vocês voltam? “

Artistas Presentes no FESTIVAL FICAR: 

Planeta Zulpeta- Cia Fenomenal (Argentina/ Brasil) @julieta_zarza @ciafenomenal

Cenas Clownssicas 3.0- Clowns de quinta (Alagoas) @clownsdequinta

Uma Noite de Mágica e Surpresas- Mágico Jesús Rojo(Espanha) @magicojesusrojo

Palhaços Bruguelo @palhacobruguelo (Mestre de cerimônia)

Sururu Circo_ @sururucirco

Circularte- @Circularte

Kamila Mesquita- @ Kamilamesquita

Rapha Santacruz- @raphasantacruz

Os Mutantes- @osmutantes

Coletivo No Vermelho- @coletivonovermelho

O Matuto- Mágico Rapha Santacruz - (Recife)@raphasantacruz

“Cuidado um palhaço mau pode arruinar sua vida"- Palhaço Chacovachi - (Argentina) @payasochacovachi

Coordenação de Produção: Julieta Zarza

Produção: Arthur Martins, Ivanildo Picolli, Victor Satti, Yolanda Ribeiro, Mirella Pimentel, Ana Galganni, Rafael Fonseca, Eva

Coordenação Mesa Redonda UFAL: Marcelo Gianini, Ivanildo Picolli

Palestrantes: Peró de Andrade, Henrique Nagope, Ivanildo Picolli, Waneska Pimentell, Julieta Zarza.

Curadoria: Julieta Zarza

Locução: Ana Galgani

Rádio Ficar: Arthur Martins

Realização: Cia Fenomenal, Panta, Cultura em Madeira

Fotografia: Benita Rodrigues, Amanda Moa, Mayra Costa

Vídeo: Luiza Leal, João Paulo Procópio, Mayra Costa, Piracema Estudio, Pavirada Filmes, Cinepopeia - @cinepopeia

Drone: Cinepopeia



Coordenação e Curadoria Feirinha Fenomenal: Renata Cordeiro

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